DESTRUIÇÃO PARCIAL DA CATEDRAL DE NOTRE-DAME É UMA ENORME PERDA CULTURAL

A Organização das Nações Unidas para a Cultura (Unesco) puxou a fila das mensagens de solidariedade aos parisienses, e aos franceses em geral, pelo incêndio trágico na Catedral de Notre-Dame. Pelo Twitter, o diretor-geral da agência da ONU, Audrey Azoulay, se colocou “ao lado da França para salvaguardar e reabilitar esse patrimônio inestimável”. Listada no Patrimônio Mundial da Humanidade desde 1991, a catedral gótica construída na Ile de la Cité, no coração da capital francesa, foi devastada pelas chamas na noite de ontem.

“Um importante lugar da fé católica está ardendo em chamas”, lamentou o porta-voz da Conferência dos Bispos da França (CEF), ouvido pela agência de notícias France-Presse, Vincent Neymon. “O incêndio atingiu um símbolo vivo da fé católica”, afirmou o religioso.

A solidariedade foi transmitida de várias partes do mundo assim que as imagens da tragédia começaram a circular pela tevê e pelas redes sociais. “Londres se une à tristeza de Paris, hoje e sempre em amizade”, tuitou o prefeito da capital britânica, Sadiq Khan. “Cenas de partir o coração na Catedral de Notre-Dame em chamas”, completou, usando a hashtag #OurDame.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, lamentou a destruição de “um símbolo da França e da cultura europeia”. Pelo Twitter, o porta-voz Steffen Seibert disse que a chefe de governo do pais vizinho sente “dor” pelas “imagens horríveis de Notre-Dame em chamas”. “Nossos pensamentos estão com os amigos franceses”, concluiu.

Jóia da arquitetura e da arte medieval

Notre Dame pode até datar do século 12, mas sua origem remonta a quase 20 séculos. As arcadas góticas guardadas pelas gárgulas levaram quase 200 anos para serem construídas e seguiram o modelo da Basílica de Saint-Denis, na qual repousam hoje os restos dos reis da França. Mas o caráter mítico do lugar que abriga a Catedral de ParisNotre Dame vem da época dos celtas, mais conhecidos como parísios, que tinham a Île de la Cité como local de culto por volta do século 1. Paris começou naquele pedaço de ilha no meio do Sena, refúgio perfeito das guerras e batalhas travadas nas margens do rio. Quando os romanos chegaram, e a cidade ainda se chamava Lutécia, ergueram ali um templo em homenagem a Júpiter.

A igreja que ontem pegou fogo começou a tomar forma em 1160, quando o bispo de Paris, Maurice de Sully, deu início à construção de uma catedral portentosa o suficiente para representar a França. A arquitetura em voga era a gótica, cuja característica maior está nas abóbadas cruzadas, uma técnica que permitia sustentar a estrutura graças ao equilíbrio dos arcos, vistos também do lado de fora das construções.

São muitas as jóias que repousam na catedral mais famosa da Europa. Dentro, um órgão com mais de 8 mil tubos está localizado ao fundo da nave. Não é o original. O instrumento foi modificado ao longo dos anos e chegou à configuração atual no início do século 20. Do lado de fora, as gárgulas que misturam formas humanas e animais eram destinadas a escoar a água da chuva.

Os sinos são cinco. O maior deles, conhecido como Bourdon, pesa 13 toneladas e foi instalado há mais de 300 anos. É badalado apenas nas festas santas, como Natal e Páscoa. Na fachada, três rosáceas representam as flores do paraíso, e duas delas têm 13m de diâmetro, um desafio arquitetônico para os engenheiros da época.

A fachada oeste, aquela que se vê de frente quando se chega ao local, é a mais rica em termos de detalhes, com esculturas que representam os santos, os profetas, os reis de Israel e os antepassados de Cristo. O juízo final aparece ali esculpido, assim como os momentos finais da vida de Nossa Senhora. Conhecida como Porta da Virgem, a entrada principal traz uma representação de Maria em sono eterno, rodeada do filho e dos profetas.

Fonte: Correio Braziliense